domingo, 8 de abril de 2012

"Any Johnson" La historia de su muerte

     A velocidade dos passos aumentava do lado de fora. Ela sabia que cedo ou tarde iam encontrá-la. O medo fazia suas mãos tremerem. A arma apontava para sua cabeça, pronta para disparar a qualquer momento. Só precisava de mais alguns segundos. Faltava coragem, disso tira-se a conclusão de que não estava pronta porém, a ideia de deixar esse mundo, deixar todo o sofrimento e toda a tristeza a fazia delirar. 1,2...3! Não conseguiu, o gatilho já estava quente. Encostou-se na porta para tentar respirar. As lágrimas eram ao mesmo tempo de alegria e depressão.
 
  - Any! Você está aí?

   Era sua imã. Pobrezinha, não queria que ela sofresse por pensar ser a culpada de sua morte. Não era. Por isso havia deixado aquela carte no criado mudo:

   "Minha querida irmã. Se não fosse você que fim teria levado minha vida? Agora estou morta, vítima de um tiro cujo gatilho foi puxado por minha própria mão. Não se culpe por isso, você tentou ao máximo me tirar da solidão e me mostrar que a vida continuava bela. A culpa não foi sua de eu não ter conseguido enxergar as coisas assim. Desde pequenas você me ensinou que chorar é bom. Chorar arranca a tristeza do coração. Eu chorei, você não sabe o quanto. Eu tentei afastar a tristeza de mim, mas ela não quis ir embora. Depois de algum tempo não temos mais força física e nem psicológica para continuar. Foi nessa hora que me lembrei da arma do papai, escondida atrás da gaveta de talheres na cozinha. Não o culpe por isso. Fique feliz por mim, nesse momento estarei sorrindo. Te amo muito.
                                                                                                                                                 Any"
   
     Esperava que com essa carta ela conseguisse tirar o remorso de não ter conseguido chegar a tempo.
     Ela ria de seu reflexo no espelho segurando a arma na cabeça. Alguns podia achá-la psicopata, quem não acharia? Ficou triste por não ter uma máquina fotográfica para registrar sua figura naquele momento. Mas logo se lembrou de que morreria e que não teria o que fazer com a tal foto.
    A resposta para aquele suicídio estava escondida atrás de um sorriso. Um sorriso que não a pertencia, mas que fora seu um dia. Claro que era amor, sempre é amor. Pois com amor podemos enfrentar qualquer dificuldade, mas sem ele os prazeres da vida são esquecidos. A história desse desencontro se deve á um jovem cujos dentes eram os mais brancos, os olhos os mais azuis e os cabelos os mais ruivos. Ela era a dona do corpo de violão mais aviolonizado que existia e conseguia transformar qualquer homem com orgulho por si próprio em um cachorrinho de rabo abanando. Coitados dos que caíam em suas mãos, todos tinham o mesmo fim. Mas nenhum deles pensava dessa forma quando estava com ela. Sentiam-se importantes, donos do melhor palácio,quase até mais importantes do que próximo o Rei Sol.
     Any conseguia ouvir o choro de todos aqueles que sofreram por amor àquela destemina colecionadora de corações. Sabia que era ridícula por estar entre eles. Sim, ela também havia amado a tal perfeição em pessoa. Sim, ela era lésbica e não tinha vergonha de admitir. Sabia disso desde seus 13 anos. Mas essa é outra história, estou agora contando a de sua morte. Quem sabe não me sinta mais livre para contar sobre sua vida depois que ela morrer? É uma promessa e faço.
   Meu deus! Por que a demora? Ela agora estava deitava no chão do banheiro, com os pés para cima encostados na parede. O revólver estava jogado ao seu lado. Já não ouvia passos no corredor, nem na cozinha, nem na sala. Estava sozinha, como queria desde o começo. Tinha entre as mãos uma caixa vermelha com bolinhas brancas. Tirou uma foto de dentro, uma foto delas duas na noite em que decidiram começar a namorar. Ela estava de jeans e camiseta, enquanto que a senhora violão usava um vestido para chamar a atenção de todos que passassem. Logo depois tirou um esqueiro de Barcelona, com um desenho do lagarto de Gaudí. Barcelona foi o primeiro lugar para onde viajaram. Elas tinham uma queda pelo tal pa amb tomàquet e pelo jamón, qualquer que fosse. Talvez por esse motivo o próximo objeto seja sua passagem de avisão. Ela usou o artístico esqueiro para queimar a foto, a passagem e tudo o que ainda restava dentro da caixa, inclusive a própria caixa intitulada "Recuerdos". Podia dizer isso no seu espanhol mais tosco.
    Quando já haviam queimado o suficiente para se tornar impossível destinguir caixa de foto e foto de passagem ela jogou tudo dentro da banheira e ligou a água fria. Não queria morrer asfixiada, isso seria estupido de mais. Ai caramba! Ela ouviu passos outra vez. Será que eram seus pais? Não, eles haviam abandonado ela no momento em que descobriram sua opção sexual. Mais um motivo para o suicidio. Acabaria com a vergonha que seus pais tinham dela, poderiam passar a dizer que sua irmã era filha única.

- Any, te perdoamos! Não precisa mais de preocupar filha. Nós te desculpamos.

Que?! Como assim? Eles estão perdoando ela por uma coisa que simplesmente não fez, mas da qual foi vítima? Ela que foi esquecida pelos pais, ela quem teve que viver sem ajuda financeira e sem amor dos que conceberam-na. Pena não poder gastar as últimas balas com eles, talvez teriam melhor destino com eles do que com elas. Mas a carta que havia deixado para eles já explicitava bastante o quanto havia sofrido:
   
     "Senhor e senhora Jonhson. Eu os perdoo, eu os desculpo por terem tido vergonha de sua filha. Aquela que nunca nengou amor á vocês, que nunca quis decepcioná-los e a que nunca se arrependeu da decisão que tomou. Agora ela sabe que o amor de vocês tinha fim, quando ela acabasse sujando o nome da família deixaria de ser amada. HAHAHAHA! Que engraçado, pelo menos com isso me tornei mulher mais cedo. Aprendi a ver a vida com olhos adultos e não mais com os ingenuos daquela criança que fora colocada para fora de casa aos 18 anos. Quero que saibam que aon invés de minha irmã vocês podem sentir culpa por meu suicídio terrível.
     

     Para sempre a lésbica que fazia parte da família Any"
    
 Ela sentia prazer em saber que aqueles que um dia chamou de pai e mãe morreriam culpados por sua morte, mesmo que não estivessem ligados à ela.
     Já faz uma hora que ela está trancada nesse banheiro com essa arma. Tempo de mais para quem queria um suícidio rápido e indolor. A história começa a tornar-se chata e ela sabe disso. Para terminar bem ela deixa uma última carta. Todos sabemos para quem. O interesante é que não é bem da forma que imaginamos que seria:
   
"Você sabe que eu te amo, não preciso repetir. Pena que não soube aproveitar quando te amei. Te escrevo para me despedir. Sim, me despedir. Estou dizendo adeus. Decidi que se não posso te amar não tenho mais razões para viver. Vou me suícidar e sei que você não se importa. Você será a última coisa na qual pensarei. Quando você estiver dormindo á noite lembre-se de mim, lembre-se de como te fiz sorrir, de como aproveitávamos as noites que passávamos juntas. Lembre-se dos meus beijos. Talvez eu passe a te assombrar á noite, mas não se preocupe, prometo que um dia paro.                                                                                                                                    Any"
     Com essas últimas palavras ela se levanta. Pára de frente para o espelho, encosta a arma na cabeça, coloca o dedo no gatilho e PUM! Esse é o fim.
    Seu corpo foi encontrado três dias depois, uma vizinha reclamou de não escutar mais os berros sem fim dela. No enterro compareceram apenas 3 pessoas. A vizinha, sua irmã e um desconhecido que passava por lá na hora e que sentiu dó da pobre morta indesejada. Caso vocês queiram saber a inquilina ruiva leu a carta, não sei o que acontece depois.

FIM.